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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA


Na autobiografia de Albert Schwweitzer (Nobel da Paz - 1952), existe um relato onde o autor se lembra de um fato ocorrido na idade de dois anos, quando ele ainda usava cadeirinha de bebê. Encontrar isso foi um alívio para mim. Pois lembro-me de coisas tão remotas que me sinto um mentiroso quando compartilho. Eu recordo que aos cinco eu sonhava com fatos acontecidos ao quatro, três anos ou menos, como se fosse um video tape. Eu nunca contei isso aos meus pais. Na verdade, eu não contava muitas coisas para eles, como o meu medo do lobo mau. Era meu segredo, culpa de um circo onde fui assistir ao Chapeuzinho Vermelho. Tenho recordações engraçadas, como, por exemplo, o dia em que fiquei encantado com o vidro de um balcão de doces. Como é possível enxergar através do vidro? Minha mãe, percebendo minha atenção, ficou inutilmente tentando descobrir que doce eu queria. Um dia resolvi provar um pouquinho de água suja por pura curiosidade. Meu pai me deu a maior bronca ( e em minha mãe também). Tive que, sem querer, beber a água que me foram buscar e escutar desnecessárias recomendações para pedir água sempre que tivesse sede. Como ouvi que os banheiros femininos eram diferentes dos banheiros masculinos eu ficava imaginando que espécie de coisas poderia haver nos banheiros femininos. Meu pai às vezes falava de um certo "governo federal". Cresci achando que era um governo que fedia. crdiv>
Carlos R. Trannin


"Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar".
Rainer Maria Rilke
Cartas a Um Jovem Poeta

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